O Deserto do Atacama, no Chile, é conhecido como o lugar mais seco do nosso
planeta, não passando da média pluviométrica de 35 mm de chuvas ao ano. Seus
2.400 m. acima do nível do mar não permitem que as massas de ar, guiadas pelas
correntes marítimas do Pacífico conduzam a umidade para essa região, tornando a
água uma raridade. A ausência de nuvens do Atacama, o torna um dos principais lugares
da Terra para observação do espaço, e, por isso mesmo, abriga o maior projeto
de astronomia terrestre existente –ALMA (Atacama Large Milimeter Array). O projeto
orçado em bilhões de euros e composto por um conjunto de 66 antenas gigantes de
12 metros por 7 metros de diâmetro, é uma parceria entre América do Norte,
Europa e Ásia Oriental em cooperação com o Chile. Mas o Atacama não é conhecido
apenas pelo clima seco e céu limpo, milhares e milhares de viajantes,
aventureiros, turistas endinheirados, mochileiros e pesquisadores de todo o
mundo são atraídos para essa região chilena durante todo o ano para explorar a
sua bela e exuberante paisagem com vulcões, gêisers, vales, cordilheiras,
oriundos de uma formação geológica rara que cria grandes semelhanças aos
cenários de ficção científica.
Diante desse enfoque, estive no Atacama em fevereiro de 2010, e me
surpreendi com a natureza. Uma rara precipitação pluviométrica durante 1 semana
me pegou de surpresa. Segundo os habitantes locais, fato semelhante não
acontecia há pelo menos 30 anos. Somente em um dia, a chuva ultrapassou os 60 milímetros,
segundo a metereologia chilena. O fenômeno ocorrido, conhecido como inverno
altiplânico, embora raro nessa intensidade, é comum nos meses de fevereiro e
março. Um clima estranho estava no ar de São Pedro de Atacama, povoado onde
concentram-se os viajantes que vêm ao deserto. Ruas cheias de lama, agências de
turismo cancelavam os passeios, restaurantes e hotéis providenciavam lonas para
cobrir as construções de adobe, carabineiros orientavam as saídas do povoado. A
agência que faz o tradicional tour astronômico pelas madrugadas para um
observatório em meio ao deserto nem sequer abriu suas portas. A frustração foi
enorme quando chegou a notícia que os carabineiros haviam interditado o acesso
aos Gêisers del Tatio devido às águas e também à neve que desciam do altiplano
fechando as estradas.
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Céu encoberto e ruas molhadas em São Pedro de Atacama |
Naquele
momento uma indagação não saia da minha cabeça: como podia ter planejado tão
bem uma viagem e não ter considerado a possibilidade do inverno altiplânico?
Mas a surpresa e o despreparo dos próprios atacamenhos com àquela chuva me
consolava pelo fato de saber que não somente eu estava sendo surpreendido. A
solução foi tentar aproveitar da forma possível, pela manhã e até o início da
tarde, quando o sol aparecia com toda sua intensidade. Mas ainda assim fomos
surpreendidos por chuvas, relâmpagos e trovoadas nas Lagunas Altiplânicas, no Vale
da Lua e nas Cordilheira de Sal do Vale da Morte.
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Chuva e trovoadas chegam de surpresa nas lagunas altiplânicas |
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Chuva em Vale da Lua e Vale da Morte |
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Pôr do sol encoberto pelas nuvens no Vale da Lua |
A
presença da chuva nos proporcionou mais tempo nas proximidades de São Pedro de
Atacama, já que as estradas para os passeios mais distantes encontravam-se
bloqueadas. Com isso ganhamos também mais tempo para poder apreciar os
pitorescos e charmosos restaurantes e bares de São Pedro de Atacama,
presenciamos a fantástica e colorida procissão e festa típica da Nossa Senhora
da Candelária – muito interessante, e também exploramos através de uma cênica
pedalada os caminhos arqueológicos da Pukara de Quitor e Ruínas de Tulor. Com
chuva ou sem chuva, o deserto do Atacama permaneceu fantástico, belo e supreendente
e ainda me proporcionou a oportunidade de testemunhar este momento tão raro:
muita chuva na região mais seca da Terra.
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Com as estradas fechadas, a bicicleta tornou-se um atrativo para explorar o deserto |
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Tour arqueológico de bicicleta |
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Festa da Candelária - conhecer as tradições dos povos atacamenhos foi uma grande surpresa da viagem |
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Os charmosos e simpáticos bares e restaurantes de São Pedro de Atacama foram o local ideal para as noites de chuva |
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